Filmes no cinema #5 - "Foi Apenas Um Sonho"

Posted: sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Nota: 8,5

"Foi Apenas um Sonho" tem, no original, o título Revolutionary Road, algo como "Rua Revolucionária", que é o nome da rua onde os personagens moram - nome irônico, diga-se de passagem -, mas também pode ser traduzido como "Rota Revolucionária", ou algo assim; é baseado no romance homônimo (tanto no original - um dos 100 melhores romances de língua inglesa de 1923 até hoje, segundo a Time - quanto na tradução, que acabou de ser lançada no Brasil) de Richard Yates, de 1961. Como a história se passa em 1955, pode-se concluir que ela foi escrita quase que na mesma época em que ocorria, o que permite ao autor fazer um retrato mais fiel da realidade. Ah, a história é fictícia...

Como protagonistas, temos novamente o casal Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, alçados à fama mundial 11 anos atrás por "Titanic" (1997). Considero-os como sendo os melhores atores de sua geração; ambos foram injustamente discriminados após estrelarem o maior blockbuster da história, mas os fatos estão aí para provar o quão bons são: DiCaprio já foi indicado, após "Titanic", a 2 Oscars e 6 Globos de Ouro (sendo que em 2007 concorreu contra ele mesmo ao Globo, por suas excepcionais atuações em Diamante de Sangue e Os Infiltrados), e Winslet, após "Titanic", já foi indicada a 4 Oscars e 5 Globos de Ouro (venceu o Globo como melhor atriz principal e como coadjuvante também neste ano, feito inédito na História para uma mesma pessoa), incluindo as indicações de 2009. As observações após "Titanic" são necessárias pois o casal não foi escolhido por acaso para o filme de 1997: ambos já tinham uma indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro cada (Kate foi indicada aos dois pelo próprio filme do navio, além disso), já eram promessas. Provam, nesse filme, para alguém que ainda tivesse alguma dúvida, que são sim a mais pura realidade.

Ele é Frank Wheeler; ela, April Wheeler. Ambos formam o casal Wheeler, típico norte-americano da classe-média: dois filhos pequenos, moram no subúrbio de Nova Iorque, ela é dona de casa zelosa, e ele trabalha no escritório, fazendo algo maçante, que odeia. Ela é atriz formada, mas, digamos, não é nenhuma Kate Winslet, hehehe... Por isso, abandonou a carreira bem no seu início. Ele, meio que "foi parar" nesse emprego, ainda não descobriu sua verdadeira vocação. A vida deles é o retrato da rotina, da pior forma possível. Decidem então por algo "revolucionário", mas que será "apenas um sonho": mudar para Paris, onde ela irá sustentar a casa, trabalhando como secretária do governo, e ele terá tempo para descobrir qual seu real talento. Com o tempo, e acontecimentos durante o filme, o plano revela-se um fracasso, e o final do filme é bastante triste e pessimista.

O filme não explica, em nenhum momento, o porquê do comportamento dos personagens, apenas o documenta. Isso é um defeito. Outro defeito é que seu desfecho é um tanto quanto abrupto - talvez seja assim propositalmente, mas não me agradou. Além disso: cadê essas crianças? Por que elas somem nos momentos mais difíceis?!? (Assistam ao filme e entenderão...). A direção do filme é de Sam Mendes, marido na vida real de Kate Winslet que estreou ganhando tudo que podia com o longa "Beleza Americana", e cuja obra desconheço - "Foi Apenas Um Sonho" é o primeiro filme a que assisto dele. Uma direção insatisfatória no que diz respeito ao filme como um todo, uma vez que, por ser pretencioso demais, acaba não tendo um resultado tão sensacional quanto se espera. No entanto, o elenco está simplesmente impecável: me arrisco a dizer que é a melhor atuação de um elenco completo que já vi.

Tanto DiCaprio quanto Winslet conseguem gritar-e-brigar-e-fazer-as-pazes-e-gritar-e-brigar-de-novo muito naturalmente, sem serem histéricos ou falsos (ao contrário de Angelina Jolie em "A Troca", por exemplo...); conseguem passar muitas coisas por simples olhares e expressões faciais, por diversas vezes. Além deles, que aparecem em uns 90% das cenas do filme, temos coadjuvantes sensacionais, desde os mais importantes até aqueles que quase são figurantes: Michael Shannon (indicado ao Oscar por esse papel) é John Givings, um matemático que atualmente é considerado insano e que, em 3 cenas e uns 10 minutos, percebe tudo que ocorre com o casal e usa sua "blindagem" de louco para falar tudo que todos, no filme e na platéia, sabem, mas que ninguém tem coragem de dizer, ainda mais com o tom e as palavras que ele usa; Kathy Bates (que fez um trabalho im-pres-sio-nan-te em "Louca Obsessão", pelo qual ganhou o Oscar de 1991, e sempre está bem, seja na comédia ou no drama) está perfeita como a amiga/vizinha que é só fachada; Dylan Baker é o perfeito colega pentelho que todos nós temos; e, por fim, Zoe Kazan está no tom certinho como secretária bonitinha, tontinha, mas safadinha...

O filme ainda conta com ótima trilha sonora de Thomas Newman, bela fotografia de Roger Deakins, e precisa recomposição de época, com a direção de arte de Kristi Zea e Debra Schutt e figurino de Albert Wolsky (a direção de arte e o figurino concorrem ao Oscar). Pelo elenco fantástico - não cansarei de dizer... - e pelos elementos acima, o filme merece 8,5. No entanto, se esses "acessórios" fossem de qualidade apenas razoável, o filme se tornaria praticamente insuportável, por falta de estofo (roteiro e direção).

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