Filmes no cinema #3 - "O Curioso Caso de Benjamin Button"

Posted: segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Nota "como crítico": 9,0
Nota "pessoal": 10,0


Nem sei por onde começar esse post... Bem, já sei: segunda-feira, 18h, sala de cinema lotada para assistir ao filme, 245 pessoas, muitas que nunca se viram, e que vieram dos mais diversos lugares, reunidas com um único propósito: passar 2h40 de suas vidas observando e tendo algum sentimento diante da tela. Ao meu lado esquerdo, uma moça que nada falou. Ao meu lado direito, duas moças que se tratavam por "mana", deviam ser irmãs. "Adoro cinema lotado, faz tempo que não vou a um assim!", diz uma delas. Eu também, o último filme que assisti nessas condições foi Batman - O Cavaleiro das Trevas. A outra responde: "É, se o povo for educado, é legal, se não...vão ficar atendendo o celular, conversando...é horrível!". Concordo com ela também. As duas não param de tagarelar até o início do filme. Quando ele se inicia, o silêncio impera na sala. Ainda bem!

E eis que então todos ali embarcam numa biografia, a de Benjamin Button (vivido na maior parte do longa por Brad Pitt), contada por ele e por seu grande amor na vida, Daisy (vivida na maior parte do filme por Cate Blanchett). Vai desde seu nascimento até a sua morte, tem tudo que uma biografia comum tem. O "curioso" do título é que dá a mágica ao filme: Button nasce um bebê com artrite, catarata...tem todas as doenças comuns aos velhos. Vai ficando criança, mas com aparência de idoso (careca, enrugado, tem que andar numa cadeira de rodas). Quando adulto só é que tem a aparência certa correspondente. Ao morrer, é um bebê comum. Ou seja, ele nasce velho e vai rejuvenescendo à medida que o tempo passa, ao contrário dos humanos normais.

Isso é muito bem explorado no filme: vemos que muitas das coisas que achamos que só velhos ou jovens podem fazer, na verdade, podem ser feitas pelos dois, depende muito mais de idade mental do que de idade física. Além disso, há uma frase que tenta igualar idosos e bebês: "Começamos e terminamos a vida usando fraldas." Até que é verdade, mas acho que o filme tenta forçar algumas situações. Mas nenhuma dessas situações estraga o maravilhoso tom fantasioso, com pitadas de humor, com o qual a história é contada. O símbolo recorrente para aproximar os jovens dos velhos é uma historinha infantil, inserida em excelentes momentos na história: cada vez que muda o emissor e o receptor, vemos que Benjamin não é mais o mesmo, que ele vive em sentido contrário ao dos demais, e como isso é para ele e para aqueles que o amam.

Resumindo o filme em uma frase: "uma história de amor impossível entre um romântico incurável e uma dançarina". Ponto em comum com a minha vida pessoal...Outro ponto em comum: assim como minha avó, Benjamin nasceu em 1918. Dessa maneira, é possível ver, e não apenas imaginar, tudo aquilo pelo que ela passou, mesmo considerando que Benjamin esteve nos EUA e minha avó no Brasil: ambos nasceram no final da I Guerra Mundial, viveram as consequências da crise da Bolsa de Nova York de 1929, enfrentaram toda a II Guerra Mundial, participaram das mudanças do mundo nos anos 60, encararam os anos 70 e 80...e, assim como Daisy, minha avó ainda viveu os anos 90 e vive os anos 2000...E, diferentemente da personagem do filme, ela está vivíssima e bastante lúcida! O filme usa como pando de fundo para contar sua história os acontecimentos do século mais transformador da História da humanidade, o XX.

Isso lembra algum filme? Sim, parece bastante "Forrest Gump - O Contador de Histórias" (1994), do diretor Robert Zemeckis, com Tom Hanks, que levou 6 Oscars em 1995, incluindo ator, diretor, filme e roteiro adaptado. Falando em roteiro, sabe quem era o roteirista de "Forrest Gump"? Eric Roth. E o de "Benjamin Button"? Eric Roth! Por isso, fizeram até o trailer do filme "The Curious Case of Forrest Gump"!!! Hahahaha...

Piadas e semelhanças à parte, o filme "O Curioso Caso de Benjamin Button" é baseado num conto de apenas 28 páginas, publicado em 1922 pelo escritor F. Scott Fitzgerald. Fitzgerald se inspirou em um comentário do escritor Mark Twain: "A vida seria infinitamente mais feliz se nós pudéssemos nascer com a idade de 80 anos e gradualmente nos aproximássemos dos 18.". Dirigido por David Fincher, que já havia trabalhado com Pitt em dois filmes anteriormente, no thriller Se7en (1995) e no fenomenal Clube da Luta (1999), "Button" é um filmaço, daqueles imperdíveis mesmo, que se manterá assim daqui a 20, 30 anos, por tratar de um tema tão caro a todos nós hoje em dia: o tempo, e como lidamos com ele. Além disso, analisa se faz alguma diferença a maneira com que lidamos com o tempo, ao mostrar duas vidas paralelamente, uma "indo", e a outra "vindo", e conclui que a frase de Mark Twain não é assim tão verdadeira quanto pode parecer à primeira vista. Não à toa, é um dos mais bem cotados ao Oscar nas principais categorias, como filme, diretor, ator... Está também bem cotado nas categorias técnicas, como fotografia e maquiagem.

Ah, a maquiagem... Está simplesmente perfeita! A parte que cuida de "mudar a idade" dos atores é comandada por Greg Cannom, vencedor de dois Oscar e indicado a mais seis, além de ter ganho um prêmio especial em 2005 por sua contribuição ao desenvolvimento de material de silicone para ser aplicado em maquiagens como as desse filme. A maquiagem, aliada aos efeitos especiais, proporciona o rosto idoso de Brad Pitt no corpo de uma criança de 7 anos! Assim como o envelhecimento, o rejuvenescimento dos personagens também está magnificamente bem feito: pode-se ver Pitt com seus 20 anos novamente...e toda essa mágica da maquiagem também é feita com Blanchett, que rejuvenesce e envelhece muito realisticamente. Há também ótimos elementos-chave para que os espectadores identifiquem em que ano o filme está: quando estamos em meados dos anos 60, toca "Twist and Shout", dos Beatles, na TV; quando é início dos anos 80, aparece um carro com a lateral toda com uma aplicação de madeira (semelhante à esse).

Se nada do que eu disse até aqui foi convincente, talvez um comentário que uma daquelas "manas" que falei no início do texto pode ser: numa cena em que Pitt, ao aparecer com sua aparência atual, sem maquiagem nem nada, com uma jaqueta de couro e óculos escuros, em cima de uma moto, ela falou "Nossa! Que gato!!!". E Cate Blanchett também não fica atrás não, homens: está uma gata também...menos quando fica moribunda no hospital.

Obs: a diferença nas notas se dá por causa de algo que já devia ter dito antes aqui: penso que há uma diferença entre "achar bom" e "gostar". Posso achar algo bom e não gostar daquilo, e vice-versa. No caso desse filme, o tempo exageradamente longo me fez tirar 0,5 ponto, e algumas frases do roteiro que parecem ter saído daqueles livros de auto-ajuda chinfrins de boca de caixa de livraria, como "Nada dura para sempre.", mais 0,5 ponto. No entanto, pelos motivos pessoais que enumerei acima, nada disso me faz gostar menos desse filme. Assim, imparcialmente minha nota é 9,0. Parcialmente, é 10,0. Ponto final.

2 comentários:

  1. Giuliano Tognetti sábado, janeiro 24, 2009 11:13:00 AM

    Jama, nesse site tem algumas cenas do filme e como foram realmente feitas em relacao a maquiagem usando computacao grafica, eh bem legal depois q vc assistiu o filme
    http://cinema.cineclick.uol.com.br/noticias/index.php?id_noticia=22044

  2. Jama domingo, janeiro 25, 2009 3:21:00 PM

    Realmente, bem legal esse vídeo!