Filmes no cinema #6 - "Dúvida"

Posted: sábado, 7 de fevereiro de 2009

Nota: 7,5


O filme "Dúvida", dirigido por John Patrick Shanley, é baseado na peça "Doubt: A Parable", de 2004. A peça foi escrita por John Patrick Shanley, e o roteiro adaptado para o cinema também. Ficou em cartaz num teatro do circuito off-Broadway, em Nova Iorque, de novembro de 2004 a março de 2005, quando passou para um na Broadway, onde ficou até maio de 2006. Ganhou os prêmios Pulitzer, de melhor drama, e Tony, de melhor peça.

Nada mais natural, depois de tantos prêmios no teatro, que houvesse uma adaptação para o cinema. O escolhido para dirigi-la foi seu escritor, que tem pouquíssima experiência como diretor, tendo dirigido apenas um filme em sua carreira. Já ganhou um Oscar, pelo roteiro de "Feitiço da Lua". No entanto, cercado de atores do calibre de Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman, Shanley se sai muitíssimo bem e realiza um excelente e perturbador filme, que peca em algumas passagens que continuam me parecendo excessivamente teatrais, algumas tomadas e, principalmente, na cena final.

Streep, que pelo papel nesse filme conseguiu sua 15ª indicação ao Oscar (já era recordista, ampliou sua vantagem em 2009), é a irmã Aloysius, diretora de uma escola católica americana em 1964 (data que o filme faz questão de frisar, ao falar que "no ano passado ocorreu o assassinato do Kennedy"). Ela é rigidíssima, conservadora ao extremo. Mantém uma posição de vilã: os alunos têm muito, mas muito medo dela. E Meryl é perfeita em suas feições, olhares e gestos ao transmitir toda essa tirania. Hoffman, também indicado ao Oscar por sua performance, é o padre Flynn, que quer tornar o ensino na escola mais amigável, indo contra as opiniões e os princípios de irmã Aloysius. Para isso, acaba ficando mais próximo das crianças.

Irmã Aloysius, então, decide colocar a irmã James (vivida também magistralmente por Amy Adams, indicada justamente ao Oscar de coadjuvante, por ser a inocência e a angústia em pessoa), a freira mais jovem do colégio, para observar o padre Flynn e qualquer ato que ache estranho. Num dado momento, ocorre uma reunião reservada entre o padre e um garoto da turma de James, Donald Miller, o primeiro negro a estudar neste colégio em todos os tempos. A irmã James comunica o fato à irmã Aloysius, que então assume como verdade absoluta: o padre Flynn cometeu um ato de pedofilia (palavra nunca mencionada no filme). Não adianta o padre contra-argumentar, contar a "sua verdade", convencer a irmã James que ele está certo... Irmã Aloysius continua a persegui-lo.

Não há provas de um lado ou de outro, apenas a palavra, seja dos dois, seja de testemunhas que são duvidosas: alguém que viu o que o padre diz ser verdade, a mãe do garoto (Viola Davis, numa participação breve, mas impressionante, que gerou a quarta indicação ao Oscar 2009 para um membro do elenco do filme) fala alguns dados sobre ele que em vez de elucidar a questão a deixam mais turva ainda...E, no meio, a irmã James com dúvidas: ela fez certo em contar o que viu a irmã Aloysius? Quem fala a verdade: Aloysius ou Flynn?

O filme, com diálogos geniais - tanto pelo texto quanto pela interpretação - entre Streep e Adams, e entre Streep e Hoffman, mais as duas cenas de jantar entre as freiras - impagáveis e tensas, ao mesmo tempo! - mereceria nota 9,5, perdendo 0,5 pois alguns diálogos me soaram muito teatrais ainda. Só que o final é muito ruim, contradiz tudo o que foi visto antes: ao tomar a atitude que toma, irmã Aloysius desconstrói totalmente o histórico da sua personagem, numa tentativa de humanizá-la, aproximá-la do espectador, que até então tinha visto um ser quase irreal na tela. Uma cena desnecessária e comprometedora que quebra todo o "clima" do filme, que poderia terminar com mais dúvidas ainda na cabeça das pessoas, num final bem mais intrigante e pertubador do que esse que temos, o que me fez pensar: "Fiquei até o fim para ver...isso? Era melhor não ter visto, e não sabido que isso tinha acontecido".

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