Filmes no cinema #9 - Frost/Nixon

Posted: sábado, 11 de abril de 2009

Nota: 8,5


Volte ao ano de 1973. Finja que agora este ano é o presente. David Frost: um apresentador de talk-shows e programa de variedades inglês, conhecido por sua superficialidade; atualmente, está no ar na Inglaterra e na Austrália, mas seu sonho é voltar a fazer sucesso nos Estados Unidos, onde isso ocorreu por um breve mas indelével período de tempo. Richard Nixon: carismático e hábil com as palavras político americano, havia há pouco renunciado à presidência da República dos Estados Unidos da América por causa do escândalo do Watergate, o maior caso de corrupção da História; desejava poder ter sua vida de poder de volta, sendo perdoado pelo povo. Eis que, então, numa união mútua de interesses, os dois decidem marcar uma série de entrevistas, que ficariam marcadas para sempre na vida de ambos, e das quais apenas um sairia vencedor, obviamente.


Esse é o clima no qual se encontra o cerne de Frost/Nixon, filme mais recente do diretor Ron Howard, conhecido por obras como "Uma Mente Brilhante" e "Apollo 13". Frost/Nixon concorreu à 5 Oscars na cerimônia de 2009, dominada por "Quem Quer Ser Um Milionário?", e perdeu todos. Foi indicado nas categorias mais importantes: diretor, filme, ator, roteiro adaptado e edição. Ah, todas indicações foram justas, e merecia até algumas mais...e, inclusive, poderia ter vencido em uma categoria.

O roteiro foi escrito por Peter Morgan, mesmo autor da peça de teatro Frost/Nixon, de 2006, (e também do filme "A Rainha", que para mim foi o melhor filme de 2006) na qual Michael Sheen e Frank Langella interpretavam, respectivamente, David Frost e Richard Nixon. Os dois atores foram mantidos na adaptação para o cinema, o que só poderia fazer bem ao filme. A peça foi muitíssimo bem avaliada pelos críticos, e teve mais de 300 apresentações ao todo, em 2006 em Londres e em 2007 na Broadway. Langella ganhou quase todos os prêmios que existem por sua avassaladora performance como Nixon - Tony Award, Drama Desk Award, Outer Critics Circle Award - e a peça foi indicada em outras categorias em todos eles, também.

Para se ter uma ideia do que eram essas entrevistas, é possível fazer uma comparação um tanto quanto grotesca, mas cuja aproximação é correta: Frost entrevistando Nixon para arrancar dele uma confissão sobre o Watergate seria mais ou menos como o Amaury Jr. (uns anos mais jovens, ok...) tentando conseguir do presidente Lula uma confissão de que sim, ele sabia do caso do mensalão. E, se Langella tem uma performance avassaladora, a de Michael Sheen, que já havia demonstrado enorme talento ao ser Tony Blair em "A Rainha", é igualmente irretocável.

O filme é dividido basicamente em três partes: uma inicial, curta, que tenta contextualizar o espectador no contexto histórico das entrevistas, mostrando como é o trabalho de Frost, e sendo uma espécie de documentário ao mostrar as notícias da época que resultaram na renúncia de Nixon; a segunda parte, longa em excesso ao meu ver, mostra todas as tratativas da entrevista, os preparativos, as dificuldades enfrentadas; e o gran finale é, lógico, a entrevista em si. Entrevista que é mais do que isso, é um enfrentamento, o momento crucial na vida desses dois homens: ambos sabem que, depois de realizada, só sobrará um de pé. A reputação do outro estará arruinada e o destino deste será o esquecimento; o outro terá o que tanto deseja, como já descrevi no primeiro capítulo.

Apesar de ser uma história real, da qual todos sabem qual o fim, o filme consegue manter muitíssimo bem o suspense, graças ao roteiro muito bem adaptado para as telonas, às atuações dos dois atores principais e, óbvio, graças à direção segura de Ron Howard. Saiu de mãos vazias do Oscar, até injustamente: Frank Langella poderia ter ficado com o Oscar de melhor ator, ou então Mickey Rourke por O Lutador, ambos melhores que Sean Penn, na minha opinião (é só procurar vídeos no YouTube do real Nixon e do real Harvey Milk, que foi quem Penn interpretou, para ver o quão afetada demais foi a interpretação do vencedor e, pelo contrário, o quão altiva e no tom certo foi a atuação de Langella). Além disso, total injustiça Michael Sheen ter ficado de fora do páreo do Oscar para melhor ator coadjuvante. Está certo que não tinha a mínima chance contra o Coringa de Heath Ledger, mas uma indicação era o mínimo que merecia.

O filme, no entanto, tem alguns defeitos: como já falei acima, o "segundo ato" é um tanto comprido demais, interessando mais especificamente a jornalistas e interessados no mundo do jornalismo particularmente, mas não ao público em geral. Outra coisa que no início até pareceu interessante mas que no fim foi extremamente ineficiente foi a inserção de depoimentos de personagens do filme como se eles fossem as verdadeiras pessoas, e não atores as interpretando, numa tentativa de deixar o filme mais documentário. Me passou um pouco de falsidade, em vez do objetivo, que era tornar tudo aquilo que acontecia mais real. Mas, enfim, é um grande drama: simples, correto, eficientíssimo.

1 comentários:

  1. Marcio Hasegava segunda-feira, abril 13, 2009 1:05:00 AM

    Ainda não vi, mas pelo que falaram, estou curioso. Quanto à parte que poderia interessar mais aos jornalistas, vou prestar atenção quando vir, até porque essa é a minha profissão hoje.

    Abraços!